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Hoje o nosso colaborador John Aguiar vem nos falar das peripécias de uma das maiores e mais bem sucedidas colaborações de sempre...

Novamente, mergulho no fascinante Universo Queen. Tal como na semana passada, a crónica de hoje versa sobre alguns factos de outro dos capítulos altos da história da banda. Assim, para as próximas linhas, fui ler mais sobre a construção do êxito Under Pressure. Mais uma vez, a ideia não é tanto “reinventar a roda”, pois se calhar a história deste hit não é segredo, mas se calhar irei tentar aprofundar o que sabemos já sobre o assunto, com opiniões pessoais sobre o que foi por mim recolhido.

Numa rara colaboração entre os Queen e alguém fora, a “escolha” por David Bowie foi, no mínimo, inspirada. Músico consumado, vanguardista e profissional da cabeça aos pés, ter Aladin Sane com John, Roger, Brian e Freddie no mesmo estúdio tinha de dar certo. Mas também faísca. Mesmo não tendo estando lá, mas conhecendo as personalidades “profissionais” dos 5 e o modo apaixonado como viveram as carreiras respectivas, os momentos vividos devem ter sido inesquecíveis. Quer por parte dos protagonistas, quer por quem assistiu de perto a tudo.

Esta história começou no Verão do já longínquo ano de 1981. Os Queen eram “clientes” regulares dos Mountain Studios, em Montreaux, e Bowie encontrava-se na sua casa de Vevey, localidade próxima. Os 5 não eram completos estranhos e o encontro, pela proximidade geográfica, seria, calculo, inevitável. Mesmo que para breves sessões de jamming, tão normais nestes meios. Mas em relação ao modo como aconteceu a reunião as versões são divergentes. Peter Hince, famoso roadie dos Queen, afirma que Roger Taylor, fã de Bowie, convidou este para dar um saltinho ao estúdio para ver o que se passava. Já este último diz que a visita sucedeu por insistência de David Richards, engenheiro de som do Mountain. Após o encontro inicial ficou logo assente que uma colaboração seria interessante. Faltava ainda estabelecer o modo da mesma.

A ligação entre tão geniais músicos foi rápida e começar desde logo a tocar e fazer covers do próprio material, a ver o que dava. Hince recorda, mais uma vez, que foi “um daqueles momentos rock n’ roll”. Bowie apelidou a coisa de espontânea e… peculiar. Já Taylor afirmou que estavam bêbedos e começaram simplesmente a tocar, entre músicas próprias e também material dos Cream. Ao fim de algumas músicas, foi Bowie, segundo o “nosso” baterista, que sugeriu experimentar algo original. Brian May diz que, à medida que iam tocando, coisas novas foram surgindo e sugeriu-se que se experimentasse gravar o que ia acontecendo. O modo como surgiu o famoso riff do baixo está ainda envolto num certo mistério por causa de versões algo contraditórias. Reza a lenda que tudo começou em Deacon, que começou a dedilhar a linha do baixo e todos gostaram e decidiram construir a música à volta da melodia. No entanto, pelo meio meteu-se o jantar e muito vinho. Quando regressaram, John havia esquecido o riff, que reapareceu mais tarde por acaso na cabeça do baixista. Já Deacon afirma que Freddie e David construíram a linha melódica. Corre ainda uma outra versão, talvez complementando a 1ª. Quando Deacon tentou repetir o riff, não se recordou do mesmo e foi Bowie que lhe guiou os dedos para a reconstruir. Este último afirma que a música foi escrita durante a noite e que Freddie (e o resto da banda) havia construído a base e que todos contribuíram com os restantes acordes para tornar tudo coeso. Isto é, não existe uma história única e factual sobre como tudo começou, mas parece um efectivo esforço colectivo, onde todos deram grandes pinceladas para o quadro final. E esse quadro, inicialmente chamava-se People On Streets. Foi de Bowie a ideia de mudar para Under Pressure.

Quando se partiu para a mistura final da música, a tensão subiu. Bowie assumia a guia vocal, com Freddie a discordar com isso. Aliás, ambos discordavam do modo com a música deveria ser “mixada”. E as faíscas chispavam… Quando se chegou a um compromisso, após… muito vinho, Freddie queria fazer as vozes no dia seguir, mas Bowie queria continuar. Novamente, muita tensão no ar. Este último sugeriu que cada um fosse para a cabine cantar do modo como entendesse e depois via-se como juntar tudo. O processo tornou-se numa maratona, alimentada, ao que parece, também a droga. Bowie recordou que o que se ouve cantado por cada são versos escritos por cada um deles, achando incrível como tudo foi feito numa só noite.

A mistura final da música foi feita em Nova Iorque. No entanto, as tensões entre Mercury e Bowie continuavam, nomeadamente e novamente com a mistura, com o segundo a assumir as rédeas da produção, para frustração de Reinhold Mack perante as constantes mudanças quer eram efectuadas. Todo este processo ocorreu durante Julho de 81 e foi lançado como single em Outubro, chegando a nº 1 no Reino Unido. Ainda assim, Bowie não estava completamente satisfeito com a versão final, lançada, entretanto. Tudo por causa dos problemas do estúdio em Nova Iorque (a mesa de mistura simplesmente quebrou). Mas quando os Queen lançaram Hot Space (1982), incluindo Under Pressure, Bowie mudou de ideias. À época, este queria mudar de editora e o sucesso do tema ajudou-o a esse feito. O disco havia sido lançado pela EMI e, em 83, Bowie assinou também por aquela marca.

Under Pressure é um dos mais bem sucedidos e mais conhecidos temas dos Queen, hit a nível mundial. E passemos por cima de “Ice, Ice Baby”, ok?! Como sabemos, não existe uma versão ao vivo com Mercury e Bowie, apesar da boa oportunidade no Live Aid. Bowie, que nunca mais havia revisitado a música, cantou Under Pressure no tributo a Mercury em 92, num dos momentos mais emocionais da noite, ao ajoelhar-se e recitar uma pequena oração.

Apesar de efémera, a colaboração foi marcante para todos. E se “escavarmos” o YouTube encontramos mais qualquer coisa, versões demo de Under Pressure e as vozes de Bowie em Cool Cat também de Hot Space. E segundo Peter Hince, existe ainda mais qualquer coisa nos cofres… Iremos ver isso algum dia? É aguardar…



  • 26 de mar. de 2019

Passamos a publicar o mais recente texto no nosso colaborador John Aguiar, que hoje nos vem falar na mítica festa do álbum Jazz...

Para esta semana, fujo um bocado da norma. Ao invés da habitual opinião sobre um determinado tema do Universo Queen, fiz umas investigações e leituras sobre alguns factos da história da banda. Se calhar, vocês saberão de algumas coisas, outras serão completa novidade ou então sabiam do geral, mas não de alguns detalhes. Bem-vindos ao fascinante Universo Queen, no Fairmont Hotel.

Em 1978, os Queen estavam no topo do Mundo. Os sucessos eram constantes e as vendas dos discos corriam sobre rodas. Para celebrar tudo isto, Mercury e seus pares decidiram comemorar o lançamento de Jazz em Nova Orleães no Hotel Fairmont com um verdadeiro “festão”. O novo álbum continha hits como Bicycle Race, Fat Bottomed Girls ou Don’t Stop Me Now (o hino ao hedonismo de Freddie), numa mescla de estilos tão típica nos Queen e tão diferente do disco anterior e a expectativa alta. Queen eram realeza a sério e tinham de o mostrar ao Mundo.

Bob Gibson, o “RP” dos Queen responsável pela organização, já sabia que a cidade escolhida pela banda era Nova Orleães, pelo espírito do disco, só lhe faltava o local e por isso fez horas extra para tentar perceber qual o melhor sítio. Depois de percorrer a cidade várias vezes o Fairmont foi o escolhido pela localização (perto do Bairro Francês) e pelo enorme salão de baile. E dinheiro, na preparação da festa, não era problema! E depois do 3º concerto a mostrar as novas músicas, a 10 de Novembro, o espectáculo de luzes e as roupas de Freddie (o famoso fato de arlequim) iria então marcar o tom do resto da festa e do resto da noite.

Jim Beach, sempre cioso do seu papel de responsabilidade no meio de tanta loucura, tinha disponibilizado já 200 00 dólares (já de si um balúrdio) para a festa, mas Freddie, ao seu estilo, disse logo ao resto da entourage “Let’s live a little, darlings”. A partir daí, Bob Gibson nem quis saber o orçamento, era para ser um sucesso e não se ia poupar. A decoração? Inspirada na cultura francesa (preponderante em Nova Orleães), o Halloween e… árvores mortas para encher a sala até ao altíssimo tecto, de onde se penduravam jaulas com dançarinos. Enquanto os convidados esperavam pelos Queen, uma banda de Dixieland em drag tocava música jazz. A compor, vídeos de Fat Bottomed Girls, single lançado duas/três semanas antes, espalhados pela sala… Nota-se o porquê da escolha. A entrada dos Queen foi depois assinalada em grande, com gente a tocar trombetas (nus), encantadores de serpentes e travestis…A famosa foto de Freddie a autografar o rabo de uma fã é desses momentos. O menu? Caviar, champanhe, ostras, lagosta e, quase certamente, cocaína. A comida estava arrumada em pirâmide e servida por empregados, alguns deles anões (segundo outros relatos, tratavam-se de empregados hermafroditas) que distribuíam droga em tabuleiros. Empregados estes que pediam para as pessoas não colocarem gorjetas nos tabuleiros, mas sim noutros… orifícios.

A lista de convidados era 300 a 500 pessoas, inclusive alguns freaks recolhidos, a pedido da banda, das ruas da cidade. Além destes, Freddie exigiu artistas de rua a actuar na festa, para “animar as coisas”, como um tipo que comia cabeças de galinhas vivas ou uma mulher a fumar por sítios estranhos…. Pela sala, contorcionistas, mágicos, zulus, strippers, entre outras… “curiosidades”. Por outro lado, no restante hotel, todos aproveitavam as vantagens dos quartos, da presença de muita gente disposta a divertir-se em grande e do ambiente de loucura… Como apontou Freddie (pelo que diz a lenda), “uns hotéis têm serviço de quarto, este tem serviço de lábios”. Às 3 da manhã, Freddie, Brian, John e Roger estavam a abandonar a festa. Mas a noite não estava a acabar. O vocalista rodeou-se dos mais belos convidados para explorar o Bairro Francês e Brian procurou uma mulher que havia conhecido anos antes. No Fairmont, o festim também não abrandou.

No dia seguinte, a lenda já crescia, com os jornais a apelidarem o evento de “Sábado à noite em Sodoma”. E Brian afirmou que a festa foi deliberadamente excessiva, para manter a imagem dos Queen de banda intérprete desses mesmos excessos. E pelo que li, isto foi daquelas festas típicas deles, plena de vida, de abundância, exagero e loucura! Na verdade, Freddie era o mentor destes festivais de deboche (com o beneplácito do resto da rapaziada), como se a testar os seus próprios limites na busca do prazer. Como um miúdo a testar a paciência dos demais. Dos adultos… Lá está, Don’t stop me now!

Mas este seria sempre o tom das festas de Freddie: freaks, fogo-de-artifício, álcool e substâncias menos lícitas. Na festa dos seus 35 anos, Mercury meteu amigos num Concorde para Nova Iorque, alugou uma penthouse e gastou, só em champanhe, umas 30 000 libras! Em 1987, outra festa lendária: 80 convidados e 350 garrafas de champanhe no idílico cenário de Ibiza! Aliás, esse evento é tão lendário que no hotel onde foi celebrado esse aniversário a mesma data ainda é comemorada com o mote da “festa que nunca acabou”. No caso não seria o show, mas sim The Party Must Go On…. E quem de nós não queria ter estado lá!


Das palavras do nosso colaborador John Aguiar​, fazemos as nossas e passamos a publicar o seu novo texto, que aborda o assunto da semana, ou seja as possibilidades de um Bohemian Rhapsody II, e de todos os prós e contras de existência de um novo filme... O tema que marca a agenda da semana do Universo Queen é, sem dúvida, a possibilidade de uma sequela para Bohemian Rhapsody. A ideia tinha sido já aventada por Brian May no passado mês de Novembro (num tom meio jocoso) e agora tem ganho mais tracção, muito por força dos prémios e dos milhões que o filme tem encaixado. É um tema sensível, onde cada um deve ter “liberdade plena de voto”, por isso o que se segue é uma opinião meramente pessoal do autor do presente texto.

Há uns dias, um nome bem conhecido dos fãs dos Queen largou uma espécie de bomba. Rudi Dolezal, realizador de vários videoclips para a banda e pessoa próxima de Freddie Mercury e do resto da rapaziada, afirmou que a ideia de uma sequela de BohRhap “está a ser fortemente discutida no seio da família Queen”. Ora fica no ar quem será a “família” e a amplitude da mesma. Deduzo que Taylor, May e Jim Beach (Deacon deve continuar de fora desta decisão) sejam o core desse parentesco e, consequentemente, da gestão do património da banda. Dolezal é uma pessoa que tem credibilidade, conhece a banda há anos e tem estado envolvido em várias iniciativas há anos. O documentário, já anunciado, The Show Must Go On tem o seu envolvimento e há também um interview project na calha, Freddie Mercury: In his own words, com a supervisão do realizador, que está ainda a trabalhar num livro, Freddie, My Friend. Falamos então de alguém credível e com peso na família Queen. Graham King, produtor do filme BohRhap, já avançou, entretanto, que não está em andamento nenhuma sequela para o filme, o que não desmente propriamente Dolezal.



Há muita acção sobre os Queen para cobrir a seguir ao Live Aid e 900M de dólares de receita são difíceis de resistir. Diria mesmo que seria interessante mostrar o período de 1985, a começar com as sessões de One Vision (bom para fazer a ponte com o Live Aid), até à gravação de No One But You em 1997, num pungente final que podia muito bem ser a emulação do videoclip, por exemplo.


A ideia de uma sequela para BohRhap é muito apelativa ao lado emocional em cada um de nós. Como fãs, não nos fartamos de Queen! E mais, aparentemente, nunca é demais. E depois do sucesso retumbante do 1º filme, só de pensar que há hipótese de um 2º filme é o suficiente para embarcarmos com entusiasmo no hype. Porquê? Há tanta diversão de estúdio em One Vision. A Magic Tour tem muito para contar, desde a gravação do álbum (com as sessões do filme Highlander) até aos históricos concertos na Hungria, Wembley e Knebworth. A cover de The Great Pretender e Barcelona seriam pontos altos também. E por fim, as sessões de The Miracle e Innuendo, onde vemos uns Queen renovados, rockeiros e mais “agrupados” que nunca. São muitos pontos altos ainda por contar. E sim, há matéria suficiente para um novo filme. E convenhamos, ter uma recriação de porções do Wembley86 seria só magnífico! Pensem nisso, um concerto em todo o seu esplendor… Ou a chegada a Budapeste? A festa de encerramento da tour…

Agora, pondo a emoção de lado. Não me agrada muito uma sequela… Recordemos vários factos. O filme demorou 10 anos a “levantar voo” e resultou num fenomenal sucesso. Uma sequela, por lei quase, não pode demorar tanto tempo a ser “preparada” (senão o flop é certo), irá quase de certeza de ter um budget mais elevado (outra lei não escrita) e será ser novamente tão triunfante na award season. Tudo estigmas para quem dirigir o filme. Superar as receitas na bilheteira também será praticamente impossível… Obviamente que boa parte do caminho foi percorrida anteriormente, produção dedicada e actores que se empenharam ao máximo e emularam na perfeição a banda. Fica também a faltar um realizador…

Outro facto a levar em linha de conta é o sentido definitivo que o filme parece querer encerrar. May sempre foi muito específico: a história a contar na tela acaba ali, na coroa de glória de Freddie. O diagnóstico da doença, cronologicamente errado para efeito dramático em BohRhap, ia criar um problema na sequela. Há a história com Paul Prenter e Jim Hutton, que também foram amalgamadas para caber num filme único. Criar uma sequela iria levantar novas e desnecessárias imprecisões. As que tivemos em Bohemian Rhapsody foram (quase) todas criadas para efeito dramático. Um novo filme ou iria fazer um retcon de muito do que vimos (erro!) ou iria persistir nos erros, meramente pela necessidade imprevista de uma sequela. E depois há outra coisa: querem mesmo ver Freddie a definhar na tela gigante? Mesmo que não seja focal na história, a progressão da doença, a sua morte e ausência serão sempre pontos importantes. Queremos mesmo isso? Eu não… Podemos ter também um filme mais dramático e tecnicamente mais perfeito, mas menos festivo e com menos festa… Interessa-vos? É uma pergunta interessante. Algo mais realista, mais virado para o drama da SIDA, da convivência dos 4 nos últimos anos e como lutaram, unidos, em estúdio para produzir música.

Prefiro que May & Taylor continuem firmes na intenção inicial de fazerem um filme único e definitivo, que finaliza com Freddie no topo do Mundo. Não vale a pena correr o risco de manchar tudo o que este filme conseguiu. E foi tanto…


Criar uma sequela parece tão boa ideia, de facto. Mas olhando aos factos e ao funcionamento da indústria, dificilmente será um exercício tão prazeroso como o original. Viverá um estigma enorme de repetir o alcançado anteriormente. E não nos podemos esquecer, estas coisas não são feitas à medida para os fãs. Mais guardarmos este como um capítulo único e de glória.

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