- 22 de fev. de 2019

Chega então a hora de publicar o mais recente artigo do nosso colaborador John Aguiar, que hoje nos vem falar da sua colecção de artigos enquanto fã bem como do seu tema favorito dos Queen.
Cada um de nós, fãs dos Queen, vive esta religião à sua maneira. Ou pelo menos, assim deve ser. Irritar-me-ia ver gente que professa o mesmo amor medi-lo perante outros à força de bens materiais adquiridos, conhecimentos “wikipédicos” ou km’s feitos. E em fóruns, quando esta discussão está à beira de acontecer, afasto-me. Aliás, entro só para ver os posts e leio na diagonal os comentários, ponto. Discutir é algo demasiado tóxico e que certamente desgostaria os “rapazes”…
Eu, por exemplo, tenho uma mui humilde colecção de Queen. Tenho os álbuns todos, os canónicos, dois VHS’s e três DVD’s (o meu pai tem em vinil os singles Fat Bottomed Girls e Crazy Little Thing Called Love, comprados em Inglaterra, no ano de edição). Bem sei, patético. Sobretudo para quem anda aqui a debitar uns bitaites. Fui ao concerto de 2005 e sou um bocadinho “Deacon” em relação a algumas actividades da banda. Nunca fui de gastar rios de dinheiro em nada, contentei-me sempre com pouco e o pouco que tenho é sim vivido com intensidade. Atenção, nada contra quem investe fortemente nesta paixão. Cada qual é como cada um! E quando era miúdo o meu lamento era só não poder aceder a mais informação, mais música e mais fotografias. Não mais…
Conhecimento. Era o que queria… Felizmente, a Internet resolveu-me isso. E hoje, à distância de um clique, acedo a tudo o que quero e preciso para viver a minha religião. Não preciso de mais… Todavia, tenho as minhas pancas… Creio já o ter descrito neste espaço. No tempo das k7’s, escrevia escrupulosamente o título das músicas. Quando comprei o VHS dos Greatest Hits preenchi duas folhas (guardadas dentro da capa e que ainda hoje lá está, deixo-vos a foto) com o título das músicas, factos sobre as mesmas (não me recordo de onde recolhi tais dados), algumas letras, autoria de cada um dos singles e até um contador com quantos hits compostos por cada um deles. Tinha também uma capinha de plástico onde colocava artigos do jornal onde os Queen eram mencionados. Assim que comprei o The Miracle fui estampar a capa do álbum numa t-shirt. Quando tive o Made In Heaven, além do booklet, vinha também o emblema dos Queen, que fui logo estampar noutra t-shirt. Ambas usadas com garbo em qualquer lado, um orgulho ser fã! Ser diferente da maioria! Ah, claro que fotocopiei o emblema colei-o na porta do quarto, onde também tinha um espelho tamanho A4 com o Freddie. O VHS Champions of the World foi visto vezes sem conta, escalpelizando cada detalhe para depois impressionar a malta o quanto conhecia sobre tão alienígena banda para os da minha idade.
Anos mais tarde, com o advento de coisas como o lendário Nero Burning Room, já podia fazer cópias de CD’s e já possuía a colecção quase toda dos álbuns, fiz a minha própria compilação dos Queen. E é aqui que entra o título do texto: Jóias da Coroa. E o que são estas jóias?! Percorri os discos todos e escolhi a faixa mais imprevisível de cada um deles de acordo com o meu gosto pessoal. É um greatest hits, mas ao contrário… Nada de hits ou músicas genericamente reconhecidas. Um deep cuts… Nome do CD? Crown Jewels! Já fizeram este exercício? Façam-no!
Neste “álbum” da minha autoria, a jóia maior seria a música que escolho invariavelmente quando a pergunta é a sacramental: se pudesses só escolher mesmo uma, qual é a tua música favorita dos Queen? E a resposta é sempre a mesma: Was It All Worth It. É aquela música… Que me converteu de vez. Naqueles minutos, temos tudo: a capacidade vocal de Mercury e o virtuosismo a toda a prova dos instrumentistas (quer do vulcão sónico, quer da guitarra de May, todos brilham). Há rock, há música clássica, enfim, há tudo o que os Queen fizeram desde sempre. Há uma mini-resenha da história da banda (aliás, um biopic centrado na banda este podia estar assente nestas letras). Estão presentes todas as dúvidas, angústias e lutas pelas quais eles tiveram de passar durante a carreira. E quando se fala no I Still Love You no These Are The Days of Our Lives esquece-se injustamente a declaração de amor aos fãs feita nesta música: We Love You Madly! E está, por fim, a resposta à pergunta do título: sim, valeu mesmo tudo a pena. Vemos uns Queen, com incontida alegria, de bem com eles próprios e com tudo o que fizeram e isso… Passou para mim!
E são estas as minhas jóias da coroa… São estes os meus “artigos de colecção”. Estas pequenas coisas… Estas pequenas sensações! E não existe dinheiro que pague isto… E vocês, quais as vossas jóias? Lê também: Quem é Freddie Mercury para vocês? Innuendo, um álbum especial Uma opinião sobre a parceria Queen + Paul Rodgers Chuva de Oscares para os Queen Queen: os primeiros anos de paixão Queen - Novamente Campeões do Mundo
- 15 de fev. de 2019

É tempo de publicarmos o novo artigo do nosso colaborador John Aguiar, que desta vez nos trás uma reflexão profunda sobre o nosso ídolo, deixando-nos uma questão muito interessante... Todos nós, os fãs de Queen, temos uma imagem mental de Freddie Mercury construída com base naquilo que víamos nas entrevistas, nos palcos e nas palavras ditas por outros. E irei descontar, claro, se algum de vós o sequer conheceu. Aliás, mesmo tendo conhecido, deve ter sido um fugaz aperto de mão há mais de 3 décadas…
Quem de nós nunca se colocou à frente do espelho ou num momento mais solitário em casa a imitar aqueles gestos…? Quem nunca juntou os braços à frente cintura, de palmas bem abertas…? Ou levantou o punho cerrado no ar? Ou fez aquela famosa “duck face” dele, a única que deveria ser admissível por lei? Eu já! E vocês? Certamente que sim…
Para mim, Freddie, além de ter feito vezes sem conta o descrito atrás e também de, na minha cabeça eu soar igual a ele (patético eu sei), era muito mais. Era uma espécie de super-herói, que tudo podia e fazia! Era liberdade infinita… Antes de saber que ele era Bulsara, era só Mercury. Nós não queremos saber, na nossa meninice, de Clark Kent, só do Super-Homem! Assim, era comigo, na minha “infância” de fã dos Queen! O que se via em palco e nos clips era tudo… Aquilo era Freddie Mercury! Força, poder absoluto sobre a multidão, génio a cada acorde da garganta! Ia do rock à balada e à ópera com facilidade. Só porque sim, porque não tinha limites. Mas com o tempo e com o aprofundar do meu gosto, fui vendo além disso… E tal como o Super-Homem é moldado por Kent, também Mercury é mais Bulsara do que outra coisa. E pude ver que nas letras, na postura extra palco e fora da fama, Mercury não era aquilo que se via em 1ª instância. Era um ser humano, como eu. Um homem com medos e inseguranças canalizados para uma personagem maior que a sua vida e que o levou aos píncaros. E se Mercury perdurará para sempre é por aquilo que Bulsara foi... E no lugar de toda aquela pose e montra de loucura, assumida nos círculos próprios, tão lendárias são as festas dos 70’s e inícios dos 80’s, essa loucura era um catalisador da sua principal característica, aquela que agora ligo mais quando penso nele: a generosidade. Ser amigo de Mercury devia ser um privilégio tal que muitos não o entenderam e aproveitaram-se disso. Para mim, Mercury é agora isso, generosidade, na minha maturidade como fã. Para com os amigos, nas suas dádivas, e para nós, os fãs, pela sua insuperável entrega em dar-nos tudo dele enquanto artista. Só isso… E por isso, obrigado! Obrigado por seres generoso!
E quem de nós nunca sonhou em ser escandaloso? Em ser livre, como ele? Em ter confiança ilimitada nas nossas capacidades, ao mesmo querendo alguém para partilhar tudo isso?
Assim, e para consubstanciar isto tudo e indo mais além, trago uma colecta de palavras de quem o conheceu para sabermos mais qualquer coisa dele…

- Nós demos um salto de fé de algum modo (quando conhecemos Mercury). A sua personalidade era tão forte. - Brian May
- As pessoas têm uma imagem dele como de uma diva, que insistia em ter tudo à sua maneira, mas ele era o mediador, o tipo que conseguia fazer sentido das tuas partes da discussão. - Brian May
- O Freddie às vezes fazia birras porque um perfeccionista. Ele dizia um fuck this e um fuck that e no minuto a seguir ria e chamava todos de darlings. - Trevor Cooper (roadie).
- O Freddie sabia rir de si próprio, enquanto outros na banda não o sabiam fazer da mesma forma. - Peter Hince (roadie)
- Perder Mercury foi como perder um membro da família. - Brian May
- Eu nunca superei a morte dele. Nenhum de nós superou. E nós subestimámos o impacto da perda dele. - Roger Taylor
- Para Deacon, a morte de Freddie foi muito difícil de processar. Ao ponto de se tornar insuportável meramente o facto de tocar connosco. - Brian May
- Eu irei pensar nele todos dias, às vezes por breves momentos, noutros durante mais tempo. - Roger Taylor
- Ele era uma pessoa extraordinariamente forte, mesmo perante a doença. - Brian May
- Não digo que não existam momentos em que não chore, mas já não custa tanto, porque a maior parte dos momentos foram de felicidade. - Brian May
- Ele conseguia galvanizar a audiência pela simples força de vontade. - Roger Taylor
- Se ele dissesse às pessoas para se despirem (à plateia), as pessoas fariam-no. - Trevor Cooper (roadie)
- O Freddie era incrivelmente corajoso. Ele continuou a aparecer, a actuar com os Queen, a ser engraçado, escandaloso e profundamente generoso, como sempre foi. - Elton John

Podem ler mais aqui e explorar os outros artigos sobre Queen.
No meio disto tudo, gostava de ouvir palavras da boca de John Deacon… E vocês? O que dizem? Quem era Mercury?
Deixo por fim, uma sugestão de passeio em Cardiff

- 8 de fev. de 2019

No passado dia 4 de Fevereiro, o álbum Innuendo completou 28 anos, este é assim o tema do mais recente artigo do nosso colaborador John Aguiar, que além disso nos vem falar de ideias para a celebração dos 50 anos dos Queen e do sucesso de Bohemain Rhapsody no Japão. Esta semana Innuendo fez 28 anos. O último disco dos Queen durante a vida de Freddie Mercury é um verdadeiro canto do cisne, na acepção real da palavra. E é um compêndio da música da banda, onde mais uma vez encontramos de tudo, no eclectismo que sempre os caracterizou.
Os anos 80 dos Queen viram as “teclas” a assumir um papel relevante na música. Alguns dos grandes hits têm sintetizadores no core da sonoridade. I Want To Break Free ou Radio Gaga são os exemplos flagrantes. Mas não só, os discos, transversalmente, viram a banda a aproveitar esta nova instrumentalização. Nunca se afastaram do rock em definitivo, verdade (Hammer To Fall, One Vision…), mas sim os keyboards foram proeminentes, o que lhes valeu algumas duras críticas. Em 1989, com The Miracle, os Queen anunciavam uma espécie de aproximação às raízes dos 70’s, com sonoridades complexas, overdubs e arranjos vocais intrincados, deixando os sintetizadores no banco de trás. Eles estavam lá, sim, mas como um mero suporte, uma textura.
Entre 89 e finais de 1990, vendo que o fim de Mercury, a banda lançou-se ao trabalho e sem tours para fazer, os 4 juntaram-se em estúdio, sempre que a saúde do vocalista permitia, e meteram mãos à obra. O resultado seria Innuendo. É um álbum que, a meu ver, aprofunda o que fora iniciado com The Miracle e faz parte de um terceiro bloco da discografia dos Queen, que engloba os dois álbuns citados e Made In Heaven.
Innuendo é, para mim, um disco especial. Além de o ter adquirido de uma forma diferente do habitual, já citada noutra crónica, simboliza o caminho não seguido pelos Queen, tolhidos pelo desaparecimento de Mercury. Oiço em Innuendo, o single, um BohRhap 3.0 (O 2.0 é, sem dúvida, Was It All Worth It). Ouvir Hitman ou Headlong é como estar perante malhas como Stone Cold Crazy. All God’s People é um louvor religioso do tipo de Mustapha. Ride The Wild Wind é Taylor a piscar o olho a I’m In Love With My Car… E por aí a fora. Pelo meio… as pungentes despedidas em These Are the Days of Our Lives ou The Show Must Go On, sempre na linha do restante. Elegante, variado e clássico. E ainda jóias notáveis em Bijou ou Don’t Try So Hard. Mercury às portas da morte, frágil, mas capaz de “sacar” aquelas notas!
Innuendo é, assim, Queen no seu melhor nos 70’s, com todos os cambiantes, eclectismo, coragem experimentalista e poder puro, mas refinados pela idade. E experiência. Mas deixa aquele sabor agridoce… Queria mais “daqueles” Queen. Sim, Made In Heaven foi uma espécie de paliativo para este meu vazio. Mas aquele disco, uma das primeiras portas para mim para a banda, apesar de duas décadas de música para trás e tanto por descobrir à época, introduziu-me para toda a elegância, toda a qualidade, mestria e amplitude das capacidades daquele quarteto. E vezes sem conta imaginei o que se seguiria a Innuendo, como evoluiriam… Ver Freddie Mercury, fato completo, elegante para caraças, mesmo com a magreza. Taylor e May, rockeiros clássicos ou Deacon, calado, mas observador e o suporte daquele vulcão todo. O que viria a seguir?! Pergunta que me assolou vezes sem conta… Como disse, houve Made In Heaven, que me serviu e soube tão bem, do princípio ao fim. Mas falta o factor Mercury! E o disco com ele em vida nunca seria igual. É Queen, sem dúvida! Estão lá as marcas de água e é vislumbre do que viria. Porém, não responde completamente à minha pergunta… Ficará sempre a angústia de não saber o que viria… E o caminho parecia ser brilhante!
E a vocês?! Esta pergunta assolou-vos?
Queen – 50 anos
De certa forma, no seguimento do anterior, não sei se repararam, mas falta pouco mais de um ano para o 50º aniversário dos Queen. O que gostariam de ver para celebrar tão redondo número? Que iniciativas? Lançamentos? Eu gostava de ver um disco compilação com demos, lados B, raridades fora de álbuns e afins devidamente remasterizados e trabalhados. Com músicas como “Dog With a Bone” por exemplo… Ou um unplugged. Ou um concerto com um holograma de Freddie! Vocês…? Desejos?!

Queen no Japão
Que os Queen são gigantes no Japão não é novidade alguma. Mas o efeito de Bohemian Rhapsody no país está a ser algo completamente acima das melhores expectativas. O Império do Sol Nascente ficou completamente… gaga com o filme. Inúmeras sessões do filme singalong foram organizadas pelo país (com inúmeras pessoas em cosplay) e nos karaokes, criação do país, das 10 músicas mais requisitadas 5 são dos Queen. E a banda sonora do filme e a Platinum Collection ocupam os 2 primeiros lugares da tabela de vendas.
Mas isto nem é o mais extraordinário. No ano em que saiu o mega blockbuster The Avengers Infinity War, Bohemian Rhapsody contabilizou 3 vezes a receita do mastodonte da Marvel, tornando-se no maior filme do ano no Japão, com quase 100M de dólares de receita. O segundo filme com maior receita fez menos… 20 milhões de dólares que o “nosso” filme. Num país que lhe era tão caro, Freddie ficaria orgulhoso. Sem dúvida!
