Tim Staffell conheceu Brian na Hampton Grammar School em Middlesex e foi o vocalista da banda de miúdo de Brian, chamada 1984. Esse grupo durou cerca de quatro anos e tem no seu currículo o facto de ter sido banda de abertura para Jimi Hendrix na Kensington Imperial College (onde Brian estudou astronomia depois de deixar Hampton). Tendo sido o bebé de Brian, os Smile foram um salto gigante na direcção que os 1984 queriam, que era ser uma banda profissional. "O Brian colocou um anúncio para um baterista no placard da associação de estudantes na Imperial e o Roger apareceu", relembra Tim, que estava a estudar grafismo na Ealing College of Art, umas milhas a Oeste da Imperial.
Uma audição no apartamento de Roger em Sheperds Bush veio pouco depois. "O Roger foi excelente, um bom baterista", diz Tim. "Ele era confiante e extravagante. Eu adorei a maneira como ele se levantava e tocava no prato e o parava imediatamente. Ele também era engraçado. Um bom rapaz". "Pensámos que ele era o melhor baterista que alguma vez tínhamos visto", Brian disse desde então. "Eu vi-o a afinar a tarola - algo que nunca tinha visto antes - e lembro-me de pensar o quão profissional ele parecia".
FONTE: BRIANMAY.COM
O Queen Portugal teve a excelente oportunidade de entrevistar Tim Staffell, conhecido no mundo dos Queen como o vocalista dos Smile, a banda que contava com Brian e Roger e que antecedeu os Queen.
Foi também amigo de Freddie Mercury na faculdade e sem isso, talvez os Queen não teriam existido. O nosso muito obrigado ao Tim pela sua simpatia e disponibilidade. Foi uma honra para nós, estarmos à conversa com alguém que faz indubitavelmente parte da história dos Queen.
Um agradecimento especial ao nosso seguidor John Aguiar, que nos alertou para a possibilidade de um contacto com o Tim. Esperemos que gostes da entrevista, John!
Queen Portugal (QPT) - Como está, aMIGO? (“Amigo” é a palavra portuguesa para “friend”)
QPT - No tempo dos “Morgan” lançaram o álbum “Nova Solis”.
• Gostou de gravar esse álbum?
• Como é que ouve esse álbum 46 anos depois?
Tim Staffell (TS) - Gravamos não só 'Nova Solis' como o seu sucessor 'Brown Out' nos estúdios RCA, em Via Tiburtina, Roma. Fomos tratados com muito respeito e encorajados a tirar o máximo proveito dos estúdios. Com o álbum “Nova Solis” acho que talvez tenhamos sido um pouco mais contidos... mas foi, de muitas formas, uma curva de aprendizagem técnica e realmente aproveitamos ao máximo a experiência... divertimos-nos muito a gravar. Quase meio século depois, naturalmente, há aspectos que parecem ultrapassados. Lembro-me de ter amortecido a bateria com fita adesiva e cobertores para restringir o seu ambiente... certamente que não faria isso hoje; também acho que poderíamos ter gravado as vozes de forma diferente mas é claro que estamos a falar da era pré-digital, numa época em que estávamos a gravar na Studer Machines que utilizava bandas magnéticas de 50 mm (2 ”) ... havia muitos problemas de incompatibilidade em relação aos sistemas anteriores ...
QPT - “Nova Solis”foi reeditado em 2009 em CD.
• Como sente o poder de permanência do álbum?
TS - Estou a ouvir de novo no Spotify enquanto eu escrevo isso... Aguentou-se bem, pelo menos em termos de originalidade de conceito, eu acho… Estou orgulhoso de ambos os trabalhos.
QPT - Também gravou “Brown Out” que apenas foi lançado depois da dissolução da banda com o novo nome “The Sleeper Wakes”.
• Porquê a mudança de nome e o que pensou da editora não ter lançado, na altura, esse álbum?
TS - A história por trás do nome do álbum no primeiro lugar, foi que, durante o período do nosso contrato, começamos a sentir que a administração da RCA estava a perder o interesse em nos promover; certamente houve uma relutância da parte deles em tentar entender o mercado do "rock progressivo". O nosso contrato era para dois álbuns, então sabíamos que 'Brown Out' seria o último... 'Brown Out' era/é uma expressão coloquial do nosso vocabulário que significa fracasso… então insistimos que fosse assim chamado. Também persuadimos o fotógrafo que a RCA lhe tinha encomendado produção da capa do álbum, que nos fotografassem com as nossas calças em baixo, a mostrar o rabo para a câmera... e foi o que ele fez. Só que a gerência ficou indignada. Eu acho que foi a última gota. O nosso contrato acabou e não lançaram o álbum. Mais tarde, quando tal aconteceu, já não havia mais a necessidade de considerar o título como uma expressão de negatividade, então "The Sleeper Wakes" parecia uma referência perfeita para o álbum ter aparecido depois de todos esses anos.
QPT - Tornou-se um fabricante de modelos para o programa infantil "Tomas The Tank Engine & Friends" (actualmente Thomas &Friends).
• Ficou satisfeito com o tempo em que trabalhou no programa?
TS - Eu era o fabricante supervisor de modelos da primeira série do programa; a minha equipa estabeleceu o aspecto e a sensação visual. Eu despedi-me da empresa antes do começo da segunda temporada; Eu não queria repetir a experiência do primeiro ano... Foi muito divertido mas queria tentar algo novo... Ofereceram a oportunidade de realizar anúncios de televisão para uma produtora concorrente e aí eu aproveitei a oportunidade.
QPT - “Nova Solis” teve uma faixa homónima que tinha uma orientação espaço/ficção científica e o Tim também trabalhou no programa ““The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy”.
• Pode falar do seu interesse sobre o assunto do espaço/ficção científica e a influência que este tema teve na variedade de coisas em que trabalhou ao longo da vida?
TS - Eu era um ávido leitor de ficção científica desde muito novo. Quando eu tinha 14 anos, possuía bem mais de 1000 livros, todos de ficção científica. Tive as obras completas de Isaac Asimov, Robert Heinlein, James Blish, Frederick Pohl e muitos mais... Sempre preferi ler ficção científica sobre qualquer outro tipo de ficção, embora, claro que existem escritores como Raymond Chandler, Dashiell Hammett, John Le Carré, etc, que trabalham em diferentes géneros e não podem ser ignorados... mas é uma preferência pessoal. O meu trabalho favorito de todos tem que ser a série de livros "Known Space" do americano Larry Niven e claro, seu magnífico romance "Ringworld". Actualmente, aprecio as obras de Neal Asher. Hoje em dia não escrevo tantas letras de ficção científica, mas escrevi um romance de ficção científica chamado "Hidden Planet", que está disponível no Kindle.
QPT - “aMIGO” tem um som muito diferente de “Gettin’ Smile ”.
• Consegue encontrar algum tipo de ponte entre eles?
• Como se sentiu ao editar um álbum mais de 30 anos depois dos Smile?
• Gostou de regravar “Earth” e “Doin’ Alright ”com Brian?
• Como foi a experiência depois de tantos anos? Sentiu que estava novamente nos “Smile”?
TS - Claro, isso vai de encontro muito próximo às razões pelas quais deixei os “Smile” em primeiro lugar, e as direcções que a minha música tomou desde então... Por um lado, existem diferenças fundamentais entre a forma como eu componho em relação aos Queen (tanto quanto eu posso ver). Também porque eu queria desenvolver a minha música de forma a que ela desse oportunidade a todos os músicos para poderem improvisar. Algures no final dos anos setenta, comecei a escrever material que permitia fazer isso ao vivo. Todos os músicos poderiam ter solos (às vezes vários solos) sobre passagens que foram deliberadamente criadas para o efeito. Uma música podia mudar radicalmente de uma noite para a outra em concertos ou em turnês. O material era fluido, mutável e altamente inesperado... isso, na minha opinião, tornava-se mais satisfatório de tocar e desafiou a capacidade dos solistas para criar variações melódicas verdadeiramente interessante. Neste seguimento, era um excelente campo de treino para todos. Durante as gravações de "aMIGO", decidi fazer metade dele com músicas do passado e metade com material novo. Então incluímos "Earth", "Doin 'Alright", "Stray", "Country Life", "‘Why Can’t We Be Free" dos velhos tempos. O resto foi contemporâneo ... Tudo teve um novo tratamento ... acho que aMIGO saiu muito bem e é claro que eu tinha a vantagem adicional de ter o Brian a contribuir para essas duas faixas dos Smile, e também o Snowy White e o Morgan Fisher.
QPT - Referiu que o álbum “Two Late” quase não foi lançado “por muitas razões e nenhuma”.
• Pode revelar que tipo de problemas quase impediram de o lançar?
• Como está a ser a recepção ao álbum?
TS - Bem, principalmente foi apatia. aMIGO vendeu razoavelmente bem, e parecia ter recebido criticas muito positivas. No entanto, a realidade é que provavelmente não foi promovido para um mercado suficientemente amplo e, para ser justo, talvez o estilo não seja exactamente o que as pessoas estavam/estão interessadas... então isso significava que não havia urgência real para lançar “Two Late”. Depois, porque não havia um forte sentimento de que seria financeiramente viável... acabámos por ficar com ele parado. Estávamos, na verdade, no processo de o lançar quando o envolvimento em Bohemian Rhapsody estava a ser considerado, então tornou-se importante acelerar as coisas... não tínhamos uma capa, por exemplo, e nós não íamos necessariamente dar-lhe novo tratamento... No entanto, acabámos por fazê-lo... e fico feliz, porque realmente aumentou a fidelidade do trabalho. Estou muito satisfeito com a capa também. Talvez seja um pouco cedo para dizer se a recepção será positiva. O interesse inicial é forte mas mais uma vez depende se as pessoas aderem ao estilo.
QPT - Já lemos que está a trabalhar no teu terceiro álbum A solo, que tem o título “ZeroMargin"
• Como vai isso?
• Pode dizer-nos sobre o som que que quer que tenha, em termos de estilo?
TS (risos) ... A palavra circula! Sim, embora ainda seja cedo, tenho 10 novas músicas pelas quais estou muito excitado, acho que são as melhores que já escrevi... e estou a procurar alagar o âmbito do tratamento desta vez... Considerando que tanto "aMIGO" como "Two Late" usavam músicos cujas sensibilidades se fundiam com jazz, gostaria de começar a incluir instrumentos diferentes para músicas diferentes. Espero usar mais ou menos a mesma banda, mas não descuro a hipótese de talvez incluir algum violino, um acordeão… Ampliar a área de trabalho, se me faço entender.
QPT - Os nossos seguidores conhecem-no principalmente do teu tempo nos Smile, a banda com Brian e Roger, antes da formação dos Queen.
• Que recordações tem desses tempos?
• Que pensava de Brian e Roger como músicos? Essa opinião mudou? Se sim, como?
• Como viu o sucesso que Brian e Roger tiveram com os Queen?
• Arrependeu-se de ter tomado a decisão de deixar os Smile?
• O que pensa de Freddie?
• Como se sentiu quando o abordaram para gravar “Doin 'Alright” para o filme Bohemian Rhapsody?
• O que achou do filme?
TS - É importante lembrar que os Smile existiam quando eu tinha vinte anos... Na minha experiência há um ponto de estabilização em por volta dos 23-24 anos de idade... Eu vi isso com meus próprios filhos e outras pessoas. Qualquer coisa antes disso é firmemente classificado como "formativo"... Ahah... então eu prefiro pensar que durante esses anos nós estávamos naturalmente numa fase experimental das nossas vidas. Todos nós tínhamos um grande respeito mútuo e eu gostaria de pensar que continua a ser assim... podemos ter caminhos separados, mas somos todos profissionais dentro das nossas respectivas vidas, e reconhecemos isso uns nos outros...
Naturalmente eu estava com inveja do sucesso que os rapazes tinham com os Queen, mas eu relembrava a mim mesmo sempre que eu detestava completamente andar em turnê. Eu odiava (algumas pessoas adoram... Snowy White adora, acho eu) .. o facto de eu ter optado por um estilo de vida mais estático, significou que as recompensas financeiras não estavam lá, o que é irritante, mas a minha paz de espírito raramente foi abalada!
Como já disse antes, eu queria fazer um tipo diferente de música e não me arrependo dessa decisão, porque eu consegui tocar com óptimos músicos ao longo dos anos.
Estarei sempre triste com o que aconteceu ao Freddie. Embora raramente o visse depois dos tempos de faculdade, sei que teríamos permanecido amigos muito próximos por causa da nossa ligação na faculdade. Foi uma tragédia absoluta ele ter morrido tão novo, não só por causa da maravilhosa contribuição que ele deu ao mundo da música, mas também porque ele era uma pessoa fantástica e não o merecia.
Fiquei muito lisonjeado e honrado por ter sido convidado a participar no filme, e também um pouco apavorado, porque o que fizemos aconteceu há cinquenta anos atrás, e eu não tinha ideia se tinha ou não capacidade de o voltar a fazer... Mas ficou bem!
Adorei o filme... havia muitas coisas que eu já conhecia, mas não entendia o contexto, e o filme clarificou tudo. Estou ciente de que existem algumas liberdades tomadas com a ordem cronológica e a natureza dos eventos, mas como já realizei filmes, respeito totalmente a visão de um realizador (e uma visão do editor) das coisas. Na minha opinião, Brian Singer/Dexter Fletcher realizaram um óptimo trabalho!
QPT - Alguma mensagem final para os fãs dos Queen portugueses? Como e onde é que as pessoas podem segui-lo e ao seu trabalho?
TS - Eu sou um grande fã de Portugal. Há trinta anos gravei anúncios de TV em Lisboa e há vinte anos atrás eu passei vários meses lá a trabalhar numa instalação na Expo 98. Nunca mais regressei, mas Portugal está na minha lista para visitar novamente em breve.
Cuidem-se e sejam todos abençoados!
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